O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes, do Ceará, filiou-se ontem na sede nacional do PDT, em Brasília, em um grande ato no qual compareceram, além de toda a Executiva nacional do partido, praticamente todos os presidentes regionais, os presidentes dos movimentos partidários e os líderes do PDT no Senado e na Câmara, além da esmagadora maioria dos integrantes da bancada do partido no Congresso Nacional.
Aclamado por um auditório lotado, Ciro foi saudado pelas lideranças do partido, entre elas o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi; o secretário nacional licenciado, ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias; o líder do PDT na Câmara dos deputados, André Figueiredo (CE), um dos principais responsáveis pela filiação de Ciro ao partido; e líder do PDT no Senado, Acir Gurgacz, entre outros.
Estiveram presentes ao ato, entre outros, o governador do Ceará Camilo Santana, que é filiado ao PT; o ex-ministro e ex-governador Cid Gomes, que deve se filiar ao PDT com um grande grupo de políticos cearenses no final deste mês, em Fortaleza; os prefeitos de Natal e de Fortaleza, que fizeram uso da palavra saudando o novo filiado do PDT; praticamente toda a bancada federal do PDT, além de outros deputados federais ligados a Ciro como Vicente Arruda, do PROS-CE; além de vários outros deputados estaduais.
Pelos movimentos partidários do PDT, fizeram uso da palavra Miguelina Vecchio, que saudou Ciro em nome do Movimento das Mulheres; e Netinho, do PDT-SP, em nome do Movimento Negro, por delegação de seu presidente, Ivaldo Paixão; e também compareceram ao ato Maria José Latgé, presidente do Movimento dos Aposentados e Pensionistas (Mapi) e Everton Gomes, presidente da JS-PDT.
LUPI E MANOEL DIAS
Em sua fala, Lupi destacou que "nós queremos construir o projeto, a plataforma para chegarmos em 2018 nos diferenciando de tudo que está aí no Brasil atual. E para isso o gesto da filiação do Ciro e do Cid é um gesto de construção”. Lupi lembrou que que o ‘namoro’ do PDT com Ciro Gomes começou há 13 anos, quando ele, com o apoio de Brizola, foi candidato à presidência da República pela Frente Trabalhista, da qual o PDT era integrante.
"Hoje é o começo de uma nova etapa na vida do partido. Essa vai ser a sua casa definitiva porque, aqui, você vai encontrar seus amigos, vai encontrar pessoas leais. Aqui você vai encontrar brasileiros e brasileiras que têm uma causa: a do Brasil. E eu me sinto orgulhoso por presidir esse partido”. Ciro agradeceu as palavras de Lupi, lembrou a boa convivência com ele na campanha presidencial de 2002 e citou o carinho com que Brizola tinha por ele.
Para o ministro Manoel Dias, a filiação de Ciro representa uma oportunidade para o PDT recuperar o significado que o partido sempre teve para o Brasil: uma grande alternativa política. “O Trabalhismo tem sido historicamente a força política capaz de, nos momentos de dificuldade, ser a luz que possa representar o diálogo nacional, o diálogo entre capital e trabalho. O diálogo entre as forças políticas que realmente defendem os interesses nacionais.
Dias destacou o fato positivo de, ao longo do 12 anos, nos quais os irmãos Ciro e Cid foram governadores, não haver nenhuma mancha em suas vidas públicas.
“No momento de frustração nacional, nós somos o partido descente capaz de oferecer alternativas reais, de recuperar a autoestima do povo brasileiro e oferecer saídas em benéfico da continuidade da inclusão social, da geração de mais empregos, a inclusão de mais pobres na classe média”, afirmou.
Dias ressaltou ainda a necessidade do governo auxiliar a Petrobras a sair da crise que enfrenta no momento, citando como um dos caminhos para isto o apoio ao projeto do senador Roberto Requião (PMDB-PR) para a capitalização da Petrobras e reinício imediato de suas obras paralisadas que considera essenciais para o país.
Em sua saudação, o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo, disse que a filiação de Ciro Gomes no partido é um marco para o país. “O PDT não nasceu para ser apêndice de nenhum outro partido, porque tem história no trabalhismo de Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola”, destacou. E acrescentou:
“Hoje a gente, com certeza, materializa um sonho que o Brizola tinha desde 2002, de ver o Ciro entrando no PDT, não apenas para com sua voz, com a sua luta e com a sua coragem enfrentar os problemas do nosso país. Mas, acima de tudo, com seu exemplo, fazer com que cada um de nós pedetistas possamos revigorar aquelas forças que herdamos de Brizola. Possamos cada vez mais ir para a linha de frente e ajudar a construir o projeto do Brasil e país do povo brasileiro que ele tanto sonhou”, ressaltou André Figueiredo.
CIRO GOMES
Na sua fala, por sua vez, Ciro disse que não estava entrando no PDT para participar de uma festa ou ser candidato, estava se filiando para lutar pelo Brasil:
“Eu não venho para o PDT para uma festa. Não venho para ser candidato a rigorosamente nada. Venho para lutar. Venho para militar ao redor desse conjunto de valores: a defesa da questão nacional, a defesa de um modelo de desenvolvimento que tenha a preocupação com quem trabalha e produz; e lutar de forma intransigente na defesa da superação das desigualdades que nos apartam em uma sociedade violenta, desigual, deseducada e doente, como é hoje as vidas chocantes da maioria de nosso povo”, afirmou.
Ciro argumentou, dirigindo-se aos pedetistas: “Não me vejam como concorrente, como competidor, não me vejam, senão, como companheiro. Eu venho com uma experiência de 36 anos de manejo da vida publica. E venho rejuvenescido com uma vontade imensa de ver o Brasil mudar”, reforçou.
Fez questão também de dizer que ele e todo o seu grupo político, que também se filiará ao PDT junto com o seu irmão, o ex-governador Ciro Gomes, no final do mês, em Fortaleza, já tem um candidato à presidência do PDT do Ceará nas próximas eleições internas, André Figueiredo.
O ex-ministro, apontado pela mídia como o candidato do PDT à Presidência em 2018, disse que o momento não é de discutir candidaturas, mas de defender a democracia, ameaçada “por forças hostis que não aceitaram o resultado da eleição" que são alimentadas por forças estrangeiras que têm interesse na Petrobras e no petróleo brasileiro.
COLETIVA DE CIRO
Em sua primeira entrevista coletiva depois de se filiar ao PDT, tendo ao seu lado Lupi e Manoel Dias, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes criticou o movimento pró-impeachment e chamou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB¬RJ), de "maior vagabundo de todos" e representar “uma maioria de corruptos”.
"Hoje, o moralismo (do discurso pró-impeachment) está a serviço da mais cruel imoralidade. O presidente da Câmara dos Deputados, hoje, que infelizmente representa uma maioria de corruptos, é quem tem o juízo de admissibilidade ou não do impeachment, cuja razão seria um crime de responsabilidade. Só que nós vamos enfrentá-los", atacou.
"Vou lutar por duas coisas neste momento: a defesa da democracia, de seus ritos, de seu calendário, que considero gravemente ameaçada por uma escalada golpista, e forçar, no limite que a democracia nos permitir, o governo que nós ajudamos a constituir a se reconciliar com os valores e grupos sociais que lhe deram a vitória", disse.
Ciro criticou a política econômica do governo Dilma Rousseff, principalmente a alta taxa de juros – que, segundo ele, desestimula os investimentos no setor produtivo– e mencionou o lucro recorde dos bancos. "O país todo caindo aos pedaços, a população toda com medo, e um setor tendo lucros recordes", disse. "A presidente padece, sendo uma pessoa séria, de dois problemas graves: uma equipe muito ruim e uma falta absoluta de projeto", completou.
Apesar das críticas, Ciro não defendeu que o PDT, que detém o Ministério do Trabalho, desembarque do governo petista, apesar de provocado por jornalistas.
A declaração ocorreu no mesmo dia em que seu irmão Cid Gomes – que também deve se filiar ao PDT neste mês– foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal a pagar R$ 50 mil de indenização a Cunha, por chama-¬lo de achacador.
"Cid Gomes era ministro [da Educação] e denunciou que havia um processo de apodrecimento das relações do governo federal com o Congresso Nacional, e que essa deterioração se assentava no achaque, na chantagem. Dito isso, foi lá, meteu o dedo na cara desse maior vagabundo de todos, que é o presidente da Câmara – digo pessoalmente, não como PDT–, pegou o paletó e foi para casa", disse Ciro.
Ciro também repreendeu a oposição, taxada por ele como golpista.
“Hoje o moralismo está a serviço da mais cruel imoralidade. O presidente da Câmara dos Deputados hoje, infelizmente, representa uma maioria de corruptos e é quem tem o juízo de admissibilidade do impeachment, cuja razão seria um crime de responsabilidade. Durma-se com um barulho desses. Só que nos vamos enfrentá-los”, disse.
O ex¬ministro ainda criticou a decisão que condenou Cid.
"Primeiro, eu fico muito impressionado com a agilidade desse juiz. Eu vou examinar isso. Se ele tiver julgado antes de procedimentos mais antigos, ele vai se explicar no Conselho Nacional de Justiça. Segundo, o meu irmão vai recorrer. Porque quem fala a verdade neste país não pode ser criminalizado. Criminoso é quem está denunciado como ladrão."
Cunha foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter recebido propina no esquema desbaratado pela Operação Lava Jato. Procurada, a assessoria do presidente da Câmara preferiu não comentar as declarações de Ciro Gomes.
Ciro ainda passou recados duros ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
“Atenção meu querido amigo doutor Levy, o ano fiscal de 2015, com toda esta amar
gura, vai ser pior que o ano fiscal de 2014. No Brasil, não tem precedentes. Todo ano eleitoral é mais expansivo e todo primeiro ano de governo é um pouco mais austero. Nós vamos ter um ano de 2014 mais sadio, que não foi bom, do que o ano de 2015, com esta amargura toda, porque a principal despesa corrente no Brasil está em elevação: juro para banco”, provocou.
Além disso, cobrou uma mudança de postura de Dilma que, segundo ele, deveria se voltar para os setores que a elegeram. A presidente fez escolhas erradas, segundo Ciro, “tanto sob matéria de equipe, quanto sob matéria de rumo estratégico".
“Nós apoiamos o governo e ninguém conta conosco. O que devia ter, penso eu, é um aforamento, mediado por ela, em que estes grupos mais progressistas, mais nacionais, mais preocupados com a sorte do País tencionassem esta heterogenia aliança e esta equipe, como diria, organizações tabajara, que são por média a equipe da presidente Dilma, para o rumo correto. O rumo correto deu a ela a eleição”, lembrou Ciro, que foi um dos responsáveis pela eleição da presidente.
A uma jornalista que insistiu na questão da candidatura à presidência pelo PDT, reiterou:
“Eu não posso andar mentindo por aí que eu não estou querendo ser candidato, sendo que eu já fui duas vezes. Agora, não chego no PDT como candidato. Acho extemporâneo. Veja o calendário brasileiro e a própria democracia sob grave ameaça, a senhora vai assistir daqui a três meses o nível de calor que vai estar a vida brasileira”, previu.
TELMARIO MOTA - O senador Telmário Mota (PDT-RR) comemorou no plenário, nesta terça-feira (16), a filiação do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, e de seu grupo, ao PDT. O senador lembrou que Ciro começou sua vida pública aos 25 anos como deputado e destacou o relevante papel prestado pelo político no Ceará, no Nordeste e a toda a nação.
Telmário deu boas vindas aos novos integrantes do PDT e desejou que todos juntos possam construir uma história e um projeto de governo para o futuro. “Ciro não veio para o PDT como uma candidatura construída, mas ele veio se somar a um projeto que o partido está preparando para o nosso país. Quero dar boas vindas ao Ciro, ao Cid e a todo seu grupo”.
Veja em vídeo a íntegra da solenidade de filiação de Ciro Gomes
Assista a íntegra da Coletiva de imprensa pós-filiação de Ciro Gomes.
| 16 de setembro de 2015
pdt.org.br